domingo, outubro 31, 2004

«Era uma amizade de alma»


Beira, Moçambique
Foto de
Brian Atkinson, a quem agradeço a autorização que concedeu a este blog para a sua publicação (thanks again, Brian).



«Fiquei muito consternada e triste com a notícia que li hoje no DN.

Tive o privilégio de conhecer de perto este casal, a Maria Rosa Colaço e o Dr. Malaquias de Lemos, que também foi meu professor no Instituto. Foi lá que foi criada uma Secção Cultural que incluía Teatro, e onde andámos a ensaiar uma peça que não chegou a ir a cena, mas cuja experiência me ficou para sempre. Essa peça terminava quando eu me voltava para a plateia e gritava "EH! VOCÊS AÍ!!!, com toda a força interior que me era possível, tentando despertar a indiferença com que se assiste à injustiça, repressão, e um largo etc. Não me recordo muito mais. Apenas que o Eurico Cordeiro (que também já não está entre nós) era quem contracenava comigo.

Como os ensaios eram já tarde, então este casal passava por minha casa e eu ia com eles.

No percurso, eu encantava-me com o discurso deles, a poesia que pairava no ar, o olhar apaixonado dos dois, os poemas que iam saindo...

A Maria Rosa Colaço tinha um olhar único que nunca esqueci. Na altura, era uma garota e só me lembro da energia fantástica, mágica, que captava desta grande senhora, quando a encontrava. Era uma amizade de alma, sem nunca ter sido propriamente uma amizade vivenciada no dia a dia. Mas estava lá dentro uma identificação inexplicável, porque o meu coração ficava sempre em festa quando falava com ela.

Segui de longe, confesso, o seu percurso. Ia sabendo que escrevia poesia e livros para crianças e jovens.

Hoje, lendo a reportagem, vi o nome de alguns livros - "O Amor é um Pássaro Azul?", "Pássaro Branco", "Gaivota", "A outra margem"... e tudo fez sentido. Era alguém que intervinha e lutava por uma sociedade mais justa, fazendo o seu trabalho muito perto das crianças.

Estou certa que terá voado numa asa dos seus pássaros, para junto do seu grande amor...

Conheci o Vasco e a Maria, ainda pequeninos. Depois veio a Sofia, mas já longe do meu horizonte. Para eles, o meu sentido pesar, a minha união na sua dor da despedida.

Mas a Maria Rosa continua a pairar entre nós com o perfume da sua poesia e a dimensão da sua alma espelhada num olhar que poisava longe, onde o Mundo é sempre belo e o Amor infinito.

Que repouse em paz, Maria Rosa. E que dessa dimensão para onde partiu, nos continue a inspirar para a beleza da vida e do Amor.

O meu até sempre! »
Milai Muje



«Faço das linhas escritas pela MILAI as minhas próprias palavras. Acrescentando somente que a MARIA ROSA COLAÇO foi minha professora primária em Nampula na Escola Roberto Ivens no ano lectivo 1963/64. Voltei a encontrá-la na BEIRA já em pleno 1966 residia então junto ao Mini-Golf ao lado do Arq. Julião. Um até sempre e os meus sentimentos aos filhos,Vasco,Maria.»
Toju Dias