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sexta-feira, novembro 17, 2023
segunda-feira, maio 08, 2006
Da Ordem da Liberdade
Tendo em conta o assunto, creiam-me, não esperava que nestes cerca de 20 meses se viesse a verificar tão elevado número de visitas, cerca de 11600. Da análise estatística que esporadicamente fui fazendo foi-me possível perceber que a sua maior parte se deu a partir de escolas, de meios universitários e artísticos e ainda de um ou outro blog que gentilmente acolheu o http://mariarosacolaco.blogspot.com/, difundindo-o.
Ao longo deste ano e meio várias foram também as pessoas que me enviaram mails colocando uma ou outra pergunta a que procurei sempre responder o melhor que podia e sabia. Ou, por vezes, deixando anonimamente uma manifestação de apreço, fosse pela iniciativa, fosse pela homenageada em si, fosse ainda para assinalar o que lhes parecia ser uma pequena vitória da memória sobre o esquecimento, ou ainda, o que sempre me há-de sensibilizar, para celebrar uma vitória da Escola no seu sentido mais básico, mais cívico e mais bonito.
Fiz o presente blog também por falta de outros meios, menos públicos, de expressar a dor de ver partir para sempre quem, a determinada e decisiva altura, se constituíu como pessoa importante na minha vida, uma âncora, um exemplo – pelo menos eu assim inconscientemente o decidi e portanto é verdade.
Fi-lo finalmente no exercício, talvez vão, de mitigar a ditadura da morte, aquela mais injusta, a que se deposita dia a dia na forma de esquecimento e que dissolve o importante da vida no ruído dos acontecimentos triviais. A pequenina eternidade que é a internet pareceu-me uma maneira possível.
Aliás foi nessa internet que fui encontrar mais rastos da Maria Rosa: Nos círculos os mais diversos, em poemas em Catalão inspirados no A Criança e a Vida, em entrevistas feitas há muito, em estudos e comentários de educadores estrangeiros, em referências a peças de teatro infantil, etc. etc.
Neste blog couberam também os testemunhos directos de jornalistas, artistas e amigos. Soube também de como este blog foi divuldado numa Escola Superior de Educação como prova de que vale a pena ser professor. Gratificante!
Creio que a iniciativa, tomada muito por instinto, não se revelou completamente desajustada. Nessa mesma internet pôde este blog registar eventos de homenagem, tanto de alunos como de amigos e admiradores, como ainda, em termos mais formais, da Edilidade de Almada. Mas não é tudo: Soube neste fim de semana de como o então Presidente da República Dr Jorge Sampaio veio a agraciar postumamente a nossa Professora com a comenda da Ordem da Liberdade com Palma e disso vos quero dar conhecimento. Orgulho e sensação de justiça são os meus sentimentos dominantes. Creio que também serão os vossos. Por quem agracia, o Estado Português, por quem nesta iniciativa o representa e por quem é agraciado.
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Uns como eu recordarão a jovem digna, inteligente, romântica, culta, lutadora, livre, que distribuía o seu talento e a sua generosidade por sobre o meio atrasado, provinciano, paroquial e policiado em que nos anos 50, princípios dos anos 60, se teve de mover, enriquecendo-nos. Outros recordá-la-ão noutras paragens, noutros tempos e noutras profissões, jornalista, cronista, guionista, na Europa e em África, mas seguramente com a mesma atitude, que lhe estava nos genes. Esta iniciativa teve apenas o objectivo e a necessidade de poder dizer adeus (o que já se revelou impossível) e também o de deixar uma palavra que quando é expressa nunca está a mais e resume toda uma intenção: À Maria Rosa, Obrigado.
À sua Família os meus cumprimentos e o reconhecimento pela compreensão que tiveram. Aos colegas e amigos dos bancos de escola, vamo-nos vendo por aí, com a cumplicidade de termos em comum o que temos.
Um grande abraço para todos. A fresca memória da Maria Rosa é a nossa, enquanto vivermos. Para quem é mortal esse é talvez o melhor dos futuros possíveis.
Maio, 2006
O António Joaquim de "A Criança e a Vida"
domingo, março 13, 2005
8 de Março de 2005, Forum Romeu Correia
De salientar que a Câmara se fez representar ao mais alto nível.
Foram proferidas palavras de orgulho pelo trabalho de Maria Rosa Colaço enquanto cidadã e professora em Almada assim como foi evidenciada a importância da escolas no desenvolvimento do Concelho.
Paulo Leitão, Director da Biblioteca Pública de Almada fez uma apresentação da exposição montada para o efeito, falando sobre cada um dos panéis no que foi acompanhado pelos presentes, muitos deles crianças da escola que tem o nome da homenageada.
Dessa exposição constam alguns dos livros publicados por MRC.
A professora Maria Helena Peixinho falou do trabalho que desenvolveu com MRC e das suas recordações enquanto amiga que foi
e leu algumas passagens de O Espanta-Pardais.
Em representação da família da homenageada esteve o seu filho Vasco que a falou da importância do professor primário na vida de todos nós
e de como as recordações que retemos desse período da nossa vida são um sinal da qualidade da relação havida com a Escola.
Confessou que sua mãe sempre manifestou imensa saudade dos seus primeiros alunos em Almada e de como essa vivência a marcou para sempre.
No fim foram distribuídas flores e houve convívio.
Fotografias de Joana Saramago
quarta-feira, março 09, 2005
8 de Março de 2005, Café com Letras
no Dia Internacional da Mulher
«O Farol – Associação de Cidadania de Cacilhas e o C@fé com Letr@s, em colaboração com alguns antigos alunos, admiradores e amigos, apoiados pela Junta de Freguesia de Cacilhas, resolveram evocar no dia 8 de Março de 2005 a figura de Maria Rosa Colaço, a professora primária, escritora, poetisa, educadora e amiga, que recentemente nos deixou.
Com o fim de promover esta homenagem, constituiu-se uma Comissão composta por individualidades pertencentes ao círculo de amigos e admiradores da homenageada. Esta iniciativa teve o apoio dos filhos da homenageada.
Esta Comissão Promotora de Homenagem a Maria Rosa Colaço transporta consigo o simbolismo da memória e dos valores materializados nos afectos transmitidos pela homenageada ao longo de uma vida.
Vai decorrer uma homenagem simples, que traduz um sentimento de grande significado, para esta terra, que ela escolheu para viver e ensinar.
É na presença daqueles que a estimam e a consideram, e quiseram e puderam hoje compartilhar este momento, que vamos evocar o seu percurso de vida.
Recordá-la-emos, sempre, pela sua entrega aos outros, pelo amor que deu às nossas crianças, pelas palavras de esperança num mundo melhor, imortalizadas tanto na nossa memória, como na sua obra literária.
Hoje, 8 de Março, Dia Internacional da Mulher, marcamos um encontro em Cacilhas, no C@fé com Letr@s, um espaço que ela visitava e apreciava, para a recordarmos, ao ouvirmos dizer alguns dos seus poemas e outros, que lhe foram dedicados.
Hoje, é o dia certo para esta Homenagem, pois através da mensagem de amor, que percorre todo o planeta viajando nos seus livros traduzidos nas mais diversas línguas, Maria Rosa Colaço, é uma Mulher Cidadã do Mundo.
Bem Haja! Obrigado D. Maria Rosa Colaço.»
Dia Internacional da Mulher, 8 de Março de 2005, 21 horas no C@fé com Letr@s em Cacilhas
Em representação da Família, os filhos: Maria Colaço de Lemos, Sofia Colaço de Lemos e Vasco Colaço de Lemos.
Por ordem Alfabética os restantes elementos:
Abrantes Raposo
Alexandre Castanheira
Alexandre Flores
Álvaro Maurício
Amélia Campos
Ana Margarida Dias
Ângela Luzia
António Boieiro
António Matos
António Matos Rodrigues
Armando Rodrigues Coelho
Artur Vaz
Carlos Alberto Dimas
Carlos Alberto Rosado
Carlos Aurélio Marques Leal
Carlos Canhão
Carlos Guilherme
Cláudia Inglês
Edite Barriga
Eduardo Raposo
Ermelinda Toscano
Fátima Passeiro
Fernando Miranda Barão
Francisco Bronze
Francisco Naia
Francisco Palma Colaço
Gabriela Fernandes
Hélder Costa
Henrique Costa Mota
Idalina Alves Rebelo
Isabel do Carmo
João Carlos Moreira Rijo
João Navarro Rosa
José António Costa Ideias
José Luís Louro
Júlio Dinis
Louro Artur
Luís Milheiro
Luísa Costa
Luísa Gueifão
Luísa Ramos
Lurdes Sério
Manuel Luís Amaral Pereira
Manuela Brandão
Manuela Fonseca
Manuela Ramalho Eanes
Manuela Tavares
Margarida Fonseca
Margarida Hasse Ferreira
Maria Alice Mota
Maria Antónia Amaral Pereira
Maria Beatriz Correia Mendes
Maria Carlos Ortins
Maria do Carmo Martins
Maria Fátima Branco
Maria Nascimento Soares
Maria Odete Alexandre
Miguel Marrafa
Natália Vicente
Padre João Luís Paixão
Teresa Rosa d ‘Oliveira
Vanda Rodrigues
Vânia Casanova
Vasco Gonçalves Martins
Vítor Figueiredo
Vladimiro Guinot
Queremos deixar aqui expressa a solidariedade que nos foi dada pela Casa do Alentejo, pela D. Maria Antonieta Roque Gameiro, pela Junta de Freguesia do Torrão, terra natal da nossa homenageada e que evoca hoje também a sua memória, pelo Café com Letras, pela Junta de Freguesia de Cacilhas, pela Assembleia Distrital de Lisboa e pela D. Ermelinda Toscano.
De D. Maria Emília Neto de Sousa, presidente da Câmara Municipal de Almada, recebemos uma carta que foi lida.
De D. Manuela Ramalho Eanes recebemos uma saudação que foi lida.
A Poesia e as palavras de Maria Rosa Colaço foram a forma escolhida por alguns companheiros para a celebração desta memória. Leram poemas e textos nesta homenagem:
Alexandre Castanheira
António Boieiro
Fernando Barão
Francisco Naia
Idalina Alves Rebelo
José Vaz
Lurdes Sério
Manuel Costa
Manuela Tavares
Nogueira Pardal
Paulo Moreira
Rosette Coelho
Vasco Henriques
Jograis da Scala
Vítor Figueiredo
Foram distribuídos pelos presentes duas pequenas publicações com poemas da Maria Rosa Colaço e uma das últimas entrevistas por ela concedidas.
Em representação da família, o filho Vasco Colaço de Lemos deu um testemunho profundo sobre a vivência com os seus pais. Seguidamente leu um texto da autoria da Dra. Manuela Eanes, enviada para esta ocasião.
A Comissão Promotora entregou um ramo de rosas, as flores preferidas da Maria Rosa Colaço, a uma representação de familiares do Torrão, sua terra natal e local onde foi sepultada, para aí serem colocadas.
A Dra. Manuela Fonseca falou sobre a sua relação com a homenageada, frisando entre outras particularidades o papel da homenageada na defesa dos mais desfavorecidos, e lembrando a devoção religiosa da homenageada pelo Menino Jesus.
O senhor Alípio de Freitas falou da convivência fraternal com a homenageada, iniciada quando trabalhavam na RTP e que criou laços que perduram para além dos tempos.
Interveio o Presidente da Junta de Freguesia de Cacilhas, realçando a importância desta evocação, oferecendo um ramo de flores e uma réplica do chafariz de Cacilhas à família.
O professor Alexandre Castanheira relembrou o dia da Mulher, saudando as mulheres presentes, e recordando a atitude de firmeza que sempre teve a Maria Rosa na defesa dos Direitos das Mulheres.
António Boieiro encerrou a sessão com um poema de Maria Rosa Colaço.
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quinta-feira, março 03, 2005
Três Eventos
Vem no Jornal da Região, edição Almada que
«Está patente até final de Março na sala Pablo Neruda do Forum Romeu Correia a exposição "O Sonho Mágico da Criança" em Homenagem a Maria Rosa Colaço, escritora, jornalista e um dos grandes vultos de Almada, falecida em finais do ano passado (...)»
2
Da agenda do Café com Letras e em colaboração com a Associação de Cidadania O Farol: Prossegue a mostra de material iconográfico relativa a Maria Rosa Colaço. Destaque para o dia 8 de Março, dia internacional da Mulher, no qual serão lidos textos da homenageada.
3
Anuncia a Companhia de Teatro de Almada que levará à cena no próximo dia 8 de Março, no Cine-Granadeiro, Auditório Municipal de Grândola, a peça de Maria Rosa Colaço "Diários de Esperancinha".
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sábado, fevereiro 19, 2005
Cacilhas, 17 de Fevereiro de 2005
A homenagem
A sala estava muito bonita, forrada com fotografias da Maria Rosa, capas dos seus livros e desenhos de crianças de turmas várias. Numa mesa, à disposição dos presentes, havia cadernos com recortes de jornais e revistas, entrevistas e fotografias de várias épocas.
O Henrique Mota, da Associação de Cidadania O Farol e alma desta homenagem, começou por agradecer a presença de todos e o carinho especial posto pela D. Guida do Café com Letras , a Ermelinda Toscano e amigos vários que puseram a exposição de pé.
Emocionado, teceu algumas considerações em torno da homenageada, que nos seus últimos tempos fora frequentadora daquele espaço.
Em seguida pediu a dois dos alunos da sua primeira turma, os da geração de A Criança e a Vida, que dissessem de sua justiça.
O primeiro foi o Vítor Figueiredo, que leu um conhecido poema seu, escrito aos 10 anos.
O amor
O amor é uma paisagem da alma.O amor é verde como a esperança.
O amor é o carinho, a alegria, a verdade.
O amor da Pátria, é lutar contra a Pátria dos outros.
O amor é alga pintada e espuma no mar profundo.
O amor veste-se de cores do sol.
O amor da mulher é a paisagem do homem.
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De seguida, outro ex-aluno, o António Joaquim, propôs-se revelar uma fotografia com 45 anos.
Revelando uma fotografia
«Os meus especiais cumprimentos à família, filhos Sofia, Maria e Vasco.
Um grande abraço aos meus queridos colegas de turma, malta fixe, aqui muito bem representados pelo Vítor Figueiredo e pelo José Inácio.
Os meus cumprimentos às suas com-sortes e filhos.
Uma palavra especial para recordar o Luís Filipe e o Telmo Godinho que não podem estar aqui hoje fisicamente connosco.
Uma grande palavra de apreço ao Henrique Mota, à Ermelinda Toscano e ao Café com Letras, pela enorme ternura que é esta sua iniciativa.
A todos os presentes o meu abraço, prometo não tomar muito do vosso tempo.
Trago-vos uma fotografia. Bom, é e não é uma fotografia. Já lá vamos.
Vão-me desculpar, vou falar da Maria Rosa apenas indirectamente. Outros poderão falar melhor do que eu.
As minhas memórias são talvez e infelizmente as mais longínquas porque depois de 1960 ou 61 não nos voltámos a encontrar.
Daí que às vezes pense que me lembro de coisas, outras vezes fico na dúvida se me lembro mesmo ou se me lembro de me lembrar, outras ainda se me lembro de ter contado.
Isto pode parecer de somenos, mas não é. Porque aquilo que devo a este momento de homenagem é, acima de tudo, a procura da verdade do que se passou. E se possível não alterada pela emoção do que se passa hoje. Aliás, a verdade desses tempos da escola da Maria Rosa não necessita de lentes de aumentar, ela vale por si se bem contada e qualquer panegírico até poderia soar a falso.
Deste modo animado do propósito de objectividade, que devo eu trazer aqui, hoje, a esta homenagem, que possa funcionar como elemento de verdade e que se acrescente aos vossos elementos de verdade?
Uma fotografia.
Bom, mas eu não tenho nenhuma fotografia.
Se tivesse uma fotografia desses tempos, tirada na escola, com a Maria Rosa ou com os meus colegas, trá-la-ia. Como não tenho lembrei-me de procurar qualquer coisa que pudesse funcionar como tal, com a mesma carga de verdade que uma fotografia sempre tem, isto é, com o mesmo poder revelador. Como alguém disse, o tempo corre a favor da fotografia. Qualquer fotografia contém novas verdades por cada ano que passa, o tempo dá-lhe novidades, devolve-lhas. Se buscarmos uma fotografia com 20, 30 anos veremos que ela, de facto, contém muito mais do que aquilo que no momento foi aparentemente fotografado. Daí o seu mistério, a sua potência. Há uma vida que se esconde nas fotografias durante anos até que um dia ela nos toca no ombro. Hoje é um desses dias.
Como vos disse não tenho nenhuma fotografia. Mas tenho qualquer coisa de semelhante: Um caderno de exercícios dessa época. Tem contas, desenhos e redacções.
Há nele uma redacção que me é particularmente importante, porque tão reveladora como seria uma fotografia dessa época onde nós, porventura, estivéssemos a rir, ou a fazer fosquices, no fundo onde nós estivéssemos a ser crianças, brincando intensamente e a sério como dizia o Picasso.
A redacção que escolhi, parte dela já a coloquei no blog e é sobre a amizade. Aparentemente é uma redacção banal: Há uma criança, neste caso a criança que eu fui, que se chamava António Joaquim, que diz que a amizade é uma coisa boa e que tem amigos. Tudo normal.
Mas peguemos agora numa lupa, aproximemo-nos das imagens que lá estão. Vejamos então a fotografia que vos trouxe.
Escreve essa criança a determinada altura:
«Tenho amigos, não esquecendo a minha amissíssima Maria Rosa»
Que vemos nós agora à distância de 45 anos? Que surge agora na fotografia como coisa nova acabada de nascer?
Em primeiro lugar que esta criança não dá erros de ortografia. Nesta redacção não dá nenhum, noutras dá pouquíssimos. Com a Maria Rosa a falta de um acento ou de uma cedilha contava como um erro. De onde se deduz que a escola da Maria Rosa era eficaz. Estou aliás em crer que se naquele tempo tivesse havido um campeonato de Português, ou pelo menos de ortografia, os seus alunos teriam feito muito boa figura. Há uma imagem nítida que retenho desses tempo – a do trabalho sério, porfiado, insistente. Não havia facilitismos. Ela lutou muito connosco.
Aproximemo-nos um pouco mais e vejamos um segundo pormenor: Quando este aluno escreve «a minha amissíssima Maria Rosa» fá-lo sem hesitações. Não há margem para dúvidas, este miúdo ao escrever o que escreve não está a fazer batota. E se for preciso eu posso testemunhar - ele tem uma amissíssima Maria Rosa. E, aqui entre nós, que ele adorava.
Aproximemo-nos ainda mais. Estamos lá quase. Analisemos a caligrafia. Pode parecer estranho mas é isso que vos proponho.
Não sendo boa, a minha caligrafia mudou muito desde essa altura e sempre para pior. Na Emídeo Navarro para onde depois transitei tive mesmo oportunidade de ser bi-repetente numa disciplina com esse nome que metia os cursivos francês e inglês, papel pautado, canetas de aparo e tinta, tudo próprio de contabilistas em desuso. Um horror.
Se não fossem hoje os computadores estaria muito bem tramado. Não vos poderia escrever esta fotografia.
Regressemos a ela: Quando este miúdo, já então com a sua difícil e ofegante letrinha, escreve que «tenho amigos» não posso deixar de ver claramente que o «t» é uma imitação, uma incorporação, uma adoração do «t» da escrita do meu pai. E quando esse mesmo miúdo mais à frente escreve «amissíssima Maria Rosa» e no fim da página quando assina o seu nome, António Joaquim de Matos Rodrigues (aliás assina várias vezes como que a reforçar e autenticar a mensagem), os seus «M» maiúsculos estão escritos como a MAria Rosa sempre os escreveu e eu nela me inspirei. E assim mantive para sempre na minha escrita.
Chegamos finalmente àquilo que Roland Barthes em A Câmara Clara descreve como o punctum da fotografia, o que nos puxa para a fotografia, que capta a nossa atenção, aquilo que a fotografia escolhe para nos revelar: Ao longo da minha vida, tanto nos assuntos mais banais como nos mais importantes, sempre que assino o meu nome, esse acto tão pessoal, essa coisa tão própria de quem tem esse particular nome, no «M» de Matos está a Maria Rosa a assinar também qualquer coisa por mim, com a sua própria letra. E eu por ela, com a minha. »
Cacilhas, 17 de Fevereiro de 2005
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Em seguida, Boieiro leu um poema de José Inácio da Silva Cruz, escrito aos 10 anos,
Mota e Boieiro
O Amor
O amor é como duas borboletas que estivessem
sobre uma rosa, a mais linda de todas do jardim.
O amor tem que haver.
Se não houvesse amor não havia nada bonito.
O amor são duas estrelas a brilhar, a brilhar.
A rosa e o sol são o amor.
O amor é a poesia.
O amor são dois passarinhos a construir a sua casinha.
O amor é não haver polícias.
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E a sessão de leitua terminou com Boieiro a ler "Cante Alentejano" de Maria Rosa Colaço.
Seguiu-se uma singular confraternização em que alguns dos presentes tentaram pôr em dia uma escrita atrasada 45 anos!
Vítor Figueiredo, AJ e Mota
Vítor Figueiredo e Boieiro
Colegas de carteira - 45 anos depois dos bancos de escola
Mota e Sofia
José Inácio e AJ
A fotografia escrita
Planeando os próximos 45 anos
E depois viemo-nos todos embora com a clara sensação de que a Maria Rosa Colaço terá gostado. Nós gostámos muito. Muito mesmo.
(*) Fotografias de Joana Saramago
quinta-feira, fevereiro 03, 2005
quarta-feira, fevereiro 02, 2005
Próximas iniciativas de homenagem
- 14 Fev, 21:30 : No Pavilhão da Cooperativa Pragalense a Associação Cultural Manuel da Fonseca leva à cena a peça Praça da Criança, de MRC. Exposição de fotografias e leitura de poemas. (Ver notícias mais abaixo).
- 17 Fev: No Café com Letras. Exposição de material iconográfico e leitura de poemas.
- 8 Mar : No Café com Letras. Evento integrado nas comemorações do Dia Internacional da Mulher.
Actualização (2 Fev)
«Gostaria de informar que também a Associação Cultural Manuel da Fonseca, sita no Pragal, irá homenagear a escritora, sua sócia honorária.
Essa homenagem consta de uma peça de teatro da autoria do colectivo da Associação, intitulada Praça da Criança. A maioria dos intérpretes são crianças e serão lidos poemas de Maria Rosa assim como interpretadas canções com poemas seus.
Simultâneamente será feita uma exposição com fotografias, poemas dos seus livros, nomeadamente do livro "A Criança e a Vida", etc.
Esta peça está integrada na 9ª Mostra de Teatro de Almada, organizada pela Câmara Municipal de Almada e será apresentada no próximo dia 14 de Fevereiro, pelas 21,30, no Pavilhão da Cooperativa Pragalense, no Pragal.
Cumprimentos
Aurora de Sousa (Vice Presidente)»
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O Farol -Associação de Cidadania de Cacilhas e o Café com Letras
preparam-se para realizar uma exposição e uma sessão de homenagem a Maria Rosa Colaço.
Ambas se realizarão no Café com Letras, espaço íntimo e informal, escolhido por ser um local que MRC frequentava e onde se sentiu estimada e acarinhada nos últimos tempos da sua vida.
A exposição focará em particular a sua primeira obra " A Criança e a Vida", pela proximidade que tem com a comunidade local. Será inaugurada a 17 de Fevereiro. Está-se em fase de recolha de materiais (documentos manuscritos, fotografias, recortes de jornais, etc.).
A sessão de homenagem deverá ter lugar no Dia Internacional da Mulher, 8 de Março de 2005 e pretende-se formar uma Comissão ampla para o efeito.
Está prevista a distribuição de poemas de MRC pelos presentes que serão convidados a lê-los, nomeadamente os que com ela participaram nas sessões de Poesia Vadia, assim como outros seus amigos e admiradores.
Para esclarecimentos e entrega de materiais a expor por favor contacte
http://opharol.blogs.sapo.pt/
e
http://cafecomletras.blogs.sapo.pt/
ou ainda o endereço de correio electrónico deste blog.
A.
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terça-feira, janeiro 18, 2005
Ei ! (Era assim a Maria Rosa)
Uma ponta da página 2 está rasgada cortando algumas (poucas) palavras, mas o poema mantém-se intacto, vivo e dolorosamente actual. Era assim a Maria Rosa.
Este poema é a minha modesta contribuição para o blog bem como para a excelente iniciativa da Associação O Farol e do Café com Letras».
Gil Teixeira
(Clique sobre as imagens para as ampliar)
sexta-feira, janeiro 14, 2005
quinta-feira, janeiro 13, 2005
quarta-feira, dezembro 15, 2004
A Moção e o amado Alentejo
Os membros do Conselho Científico da Escola Superior de Educação de Setúbal, reunidos em sessão plenária, em 14 de Dezembro de 2004, lamentam o desaparecimento recente da professora, pedagoga, escritora e guionista Maria Rosa Colaço, cidadã, educadora e artista que prestigiou o Distrito de Setúbal, onde nasceu e passou parte de uma vida repartida por Portugal e Moçambique, mulher simples e fraterna, criadora inesquecível de palavras tantas vezes ousadas, inventora do uso das mesmas em tempo de silêncio e cobardia, que os meninos menos protegidos na e pela vida herdaram e alargaram, em busca de horizontes, a partir de A Criança e a Vida, obra-prima em que nos revimos e revemos e que perdurará no que sabemos, queremos e somos como docentes, agora que Maria Rosa voltou, para sempre, ao
amado Alentejo.»
segunda-feira, dezembro 13, 2004
Paixão, Educação
(...)
Os meus VOTOS é que neste vosso BLOGUE apareçam os “MENINOS” dos anos 50 e os “Meninos” dos anos 60, 70, 80 e 90 a falar dos milagres que aconteceram e continuam a acontecer, apesar do desconcerto, apesar da imensidade de incongruências, apesar dos disparates sucessivos e intermináveis… Não nos podemos conformar com a incompetência reinante.
(...)
Volto a repetir o que já disse: O LIVRO da ROSA foi e é importante. Mais importante, ou o IMPORTANTE, somos NÓS HOJE e as CRIANÇAS DE HOJE, que estão a ser espoliadas e desavergonhada e impunemente prejudicadas. Acho que lhe devemos esta singela homenagem. ROSA, nós estamos AQUI e somos nós que queremos continuar a acreditar em MILAGRES destes que a gente sabe e pode fazer!
Em A Paixão da Educação. Um abraço para eles.
domingo, dezembro 05, 2004
Prova de redacção: Os meus amigos
Assinado ...»
segunda-feira, novembro 29, 2004
O que é a vida?
Arte Rupestre
Do site de uma escola na Catalunha :
Les definicions poètiques suggerides per Maria Rosa Colaço
[El niño y la vida, Kairós, 1970]
QUÈ ÉS LA VIDA? ÉS UNA CAIXA DE BOMBONS
ÉS COM UN FIL LLARG SEMPRE A PUNT D'ENCETAR
QUE HAS DE RECÓRRER FINS AL FINAL
Roseta Altea (12 anys)
ÉS UN LLIBRE DE RECORDS
ÉS COM UN GLOBUS QUE ES POT PUNXAR I PER CADA PÀGINA QUE PASSA
I QUAN ES PUNXA, MORS.
UNA ANÈCDOTA ET TRASPASSA Guillem
(11 anys) Jordi
ÉS UN CAMÍ QUE SEMPRE S'ACABA [...]
Pau (11 anys)
[...]
O que é um anjo? - (Erasmus) - II
«Trabalho realizado no decorrer do intercâmbio integrado no programa Erasmus, no ano lectivo 1994/95. Os textos foram retirados do livro "A Criança e a Vida" de Maria Rosa Colaço».
Inserto na revista on-line UP-ARTE[1], Universidade do Porto. Em vão se tentou o contacto com o seu autor, Rui Santos .
quarta-feira, novembro 24, 2004
O que é um anjo? - (Erasmus)
Fernando Brás, 6 anos
«Trabalho realizado no decorrer do intercâmbio integrado no programa Erasmus, no ano lectivo 1994/95. Os textos foram retirados do livro "A Criança e a Vida" de Maria Rosa Colaço».
Inserto na revista on-line UP-ARTE[1], Universidade do Porto. Em vão se tentou o contacto com o seu autor, Rui Santos .
«Pesar pelo falecimento de Maria Rosa Colaço»
Texto e imagem em Boletim Municipal, Novembro 2004, Câmara Municipal de Almada
sábado, novembro 20, 2004
«Na morte de Maria Rosa Colaço»
13 de Outubro. Toca o telefone. De Portugal anunciam-me a morte da Maria Rosa Colaço. Fico com um nó na garganta e nem sei o que consegui articular. Uma tristeza imensa me invade. Um desgosto tão grande que me dá ganas de sair a correr, aos berros, de protesto pelo sofrimento da Amiga, pela dor indescritível do Vasco, da Maria, da Sofia, seus filhos tão queridos. Uma perda irreparável. E eu a mais de 2.000 quilómetros de distância.
A nossa amizade começou há mais de cinquenta anos, em Aljustrel. Ela era ainda uma estudantezinha e eu já trabalhava, pois cedo comecei. Por vezes ela estava à janela da sua tia. Outras vezes na livraria do Edmundo da Silva, onde eu era assíduo nas horas livres. Quando a Maria Rosa deixou Aljustrel para prosseguir os seus estudos ficou a trocar correspondência com o José Conceição, seu colega no colégio local. Ora entre mim e o Conceição há uma amizade que herdámos dos nossos pais. A mesma infância, a mesma escola primária, a mesma adolescência e por aí fora. Eu tinha lido algo da Maria Rosa numa página infantil de não sei que jornal. Escrevi um apontamento sobre o texto e pedi ao Conceição de o incluir na próxima carta. E dizia-lhe também que eu sentia que ela viria a ser uma grande na literatura portuguesa. Na resposta ela confessava que a D. Etelvina Lopes de Almeida, escritora e jornalista distinta, lhe havia dito mais ou menos a mesma coisa. Foi portanto através do Conceição que se iniciou o nosso intercâmbio, que rapidamente se tornou em amizade, dado que havia muito de comum nas nossas sensibilidades, o mesmo amor pelo Alentejo, pela literatura; assim como mesmos desejos de liberdade e de justiça social. Isto por volta de 1950!
Publiquei alguns textos pessoais na Gazeta do Sul. Ela alargava a sua colaboração à Planície de Moura, ao Diário do Alentejo, Diário do Sul, Diário de Notícias e a muitos outros jornais. Viríamos ambos a colaborar no Odemirense, levando connosco o desenhador aljustrelense Manuel Martins Lopes. O talento de Maria Rosa Colaço explodia e o seu nome começou a ser referência nos meios literários nacionais. Paralelamente havia então um são convívio entre o nosso grupo de jovens de Aljustrel e os jovens do Torrão, amigos da Maria Rosa. Reciprocidade de visitas para festas, aniversários, récitas, passeios... A Nossa Senhora do Castelo, no alto da Vila, o moinho, a represa das minas, os campos dos arredores foram testemunhos da nossa juventude, da nossa amizade e comunhão de ideias. E a nossa liberdade incomodava autoridades locais e bufos. Houve até suspeitas de haver entre nós gente subversiva. Excessos dos pilares do regime, naturalmente.
A nossa amizade prosseguia. Veio o meu casamento e o nascimento da primeira filha, a Filomena Luiza, abreviado em Menaliza, que logicamente seria apadrinhada pelo Zé Conceição e por Maria Rosa. O bebé foi a inspiração de um poema a transbordar de amor, alegria e ternura: “A menina dos olhos de Sol”.
Depois foi a Maria Rosa que terminou os estudos e começou – com êxito tão festejado – a sua carreira de educadora. E veio o casamento com o amor da sua vida, o advogado António Lille Malaquias de Lemos, figura de referência no teatro universitário português. Fundou o Grupo Cénico da Faculdade de Direito de Lisboa, os Jograis de Lisboa e os Jograis de Hoje, encenador de talento. A vida levou-os à Madeira, depois a Nampula, à Beira e a Lourenço Marques, em Moçambique e iam espalhando cultura por onde viveram.
Entretanto Aljustrel foi fulcro do clima de violência que reinava no País. Na rua a GNR e a PIDE atiraram sobre o povo, ferindo e matando gente inocente. E eu decidi subtrair os meus filhos a tal clima de violência. Em 1964 deixei o País. Foi na Bélgica, em Bruxelas, que me fixei e aos meus. Não é fácil deixar o País. Não é fácil recomeçar uma nova vida. Nada é fácil na emigração.
Mas um dia, em 1969, a Maria Rosa e o Lille vieram viver uns dias connosco em Bruxelas. Dias maravilhosos de convívio renovado onde cada momento foi aproveitado para o Lille se actualizar com o que havia de melhor em teatro no centro da Europa, ficou maravilhado com uma peça de Arrabal, assim como com o Ballet Béjart. Ficaram impressionados com a riqueza da vida cultural de Bruxelas e surpreendidos porque na comunidade portuguesa havíamos encenado o AUTO DO CURANDEIRO, de António Aleixo, peça proibida em Portugal. Dias de franca troca de impressões sobre nossas experiências de vida, eles nos confins de África, nós no coração da velha Europa. Notícias de amigos comuns, como José Afonso, que também foi parar à Beira e que agora iríamos receber de tempos a tempos na nossa casa em Bruxelas. Também houve discussão sobre a complexidade dos problemas de Portugal e do nosso povo. Inevitavelmente. Dias inesquecíveis de amizade profunda.
Só depois, muitos anos depois do 25 de Abril, houve o grande abraço do reencontro, o renovar de contactos, aquele adubar da velha amizade nunca desmentida. A cada ida a Portugal lá havia a oportunidade duma conversa, o prazer duma refeição familiar. Estou a lembrar-me dum serão em Almada, depois da estreia de uma peça de teatro com o Lille encenador e a discussão que se seguiu entre os actores, o escritor Romeu Correia, a Luiza Basto, a Maria Rosa e onde participámos. Cada reencontro foi uma festa. Os nossos filhos tinham crescido e eram nosso orgulho. A Maria Rosa era agora a figura grada da literatura portuguesa, com vasta obra publicada.
Tragicamente o pior estava reservado para os meus amigos. No primeiro dia de 2003 o Lille sucumbiu a terrível doença. Lutou desesperadamente e foi com horrível sofrimento que viu a vida fugir-lhe. Maria Rosa sobreviveu penosamente à perda do grande amor da sua vida. Mas não por muito tempo. A saúde, abalada, foi-se degradando até que nesse trágico dia 13 de Outubro, cansada de sofrer, entregou a alma ao seu Deus, esse mesmo Deus em que acreditava e que não foi nada generoso, nem para ela, nem para o seu marido, nem para os seus filhos, o Vasco, a Maria e a Sophia. Como acreditar num Deus generoso e justo??
Vivi angustiado algum tempo com necessidade de chorar e os olhos desesperadamente secos. Mas no sábado seguinte, 3 dias após a perda grande da irmã de sensibilidade, andando ao acaso, encontrei-me à porta dum cinema. Exibia-se o filme “Cadernos de Viagem”, de realizador brasileiro. Filme que relata a grande viagem de dois amigos estudantes pela América do Sul, numa velha motocicleta. A miséria de vida dos camponeses argentinos, dos mineiros de cobre do Chile, a leprosaria do Perú e muitas outras situações trágicas marcaram profundamente os nossos heróis. Neles ficou a convicção da necessidade de lutar por um mundo mais justo, não só para o povo da América Latina, como para todos os que sofrem a miséria a que os condena uma exploração impiedosamente assassina. Um desses dois estudantes foi mais tarde o médico e revolucionário CHE GUEVARA. Que anos depois teve a cabeça a prémio e foi assassinado pelos Estados Unidos da América. O trágico das situações e a angústia que estava dentro de mim, fez que dei comigo a chorando amargamente. Como não imaginava que se pudesse chorar aos 72 anos.
Acreditem ou não, tive então a sensação nítida que a meu lado, na cadeira fisicamente vazia, estava comigo a Maria Rosa Colaço. Numa presença amiga e solidária, para me confortar no grande desgosto que me causou a sua perda. Uma presença como aquela que me acompanhou vida fora, em mais de cinquenta anos, me ensinando o Amor, me ensinando a VIDA.
O vazio que sinto cada vez que volto a Portugal, pela ausência de entes queridos, vai ser, a partir de agora, imensamente maior. E mais doloroso.
Adeus Amiga.
Deixas-me o mundo mais pobre e mais triste.
José Soares
Outubro 2004
Bruxelas
sexta-feira, novembro 19, 2004
«Estrada Larga»
Era uma vez…
Podia começar assim, com estas palavras brancas, que descobrem o sol da nossa infância, rompendo as sombras e os muros velhos, e contar-lhes,
Era uma vez no “ Forno de Cima “, ali na encosta antiga do Pragal, junto aos braços abertos do Cristo-Rei, que aquecíamos os corações, nas canções novas, nos poemas pintados de esperança, ou como os guindastes da Lisnave entravam cúmplices e solidários, pela janela escancarada do 5º andar em Almada, nas boas madrugadas, iluminadas de gaivotas, de Tejo e andarilhos das sete partidas…
Mas hoje apetece-me voltar a Toronto, à sala de embarque do seu aeroporto internacional, onde se cruzam diariamente milhares de pessoas de todos os continentes, de todas as cores e credos! Apetece-me voltar e…estás ali comigo Maria Rosa, esperando o pássaro que vai levar-nos de volta ao perfume da nossa terra.
De súbito, junto a uma das portas da enorme gare, uma inusitada agitação. Depois, abrindo clareiras à sua passagem, sereno, de braços abertos, chapéu velho e roto, com palha a sair pelos buracos, fato esfarrapado de mil cores, o Espanta-Pardais veio envolver-nos num abraço!
Por um instante, tudo à nossa volta parecia ter parado!
O Espanta-Pardais da peça que escreveste, e eu tinha levado à cena, com um grupo magnífico de pessoas da comunidade portuguesa de Toronto, trazia “palhinhas” do seu coração, para nos aconchegar os caminhos, na grande aventura da Estrada Larga…
Portalegre 20 de Outubro de 2004
Francisco Ceia